Sabe aquelas fases em que o cabelo começa a cair no banho e a se acumular na escova ao pentear? Pode ser que isso seja normal, pois nem sempre a queda de cabelo é sintoma de doença, e muitas vezes a queda se resolve sozinha. Perder cabelo no dia-a-dia é algo normal, pois os fios obedecem a um ciclo de queda e crescimento em que os pelos velhos são trocados por novos.
O problema se instala se há uma perda de mais de 150 fios por dia, o que ocasiona queda excessiva. Aí sim, a queda de cabelo é um sinal de alerta do corpo que não deve ser negligenciado e deve ser investigada por um profissional.
A queda de cabelo tem múltiplas causas e pode estar relacionada a diferentes fatores, como predisposições genéticas e histórico familiar (condição chamada de alopecia androgenética, a popular calvície); deficiência de nutrientes (o que pode acontecer em dietas radicais e má-alimentação); excesso de procedimentos capilares (o calor e os produtos químicos presentes na escova progressiva, alisamento, coloração e até banho quente enfraquecem o cabelo); e uso de penteados apertados (coques, rabos e dreadlocks causam alopecia traumática devido à tração dos fios).
A perda dos fios pode ser também sintoma de doenças autoimunes (como o lúpus eritematoso e a psoríase), doenças dermatológicas como micoses e dermatites, excesso de oleosidade, ou ainda ser desencadeada pelo uso de determinados medicamentos (para tratar pressão alta e problemas cardíacos, anticoagulantes, antidepressivos). Além disso, com o passar dos anos aumenta as chances de queda de cabelo nas mulheres, isso porque há um envelhecimento natural do bulbo capilar.
Uma das principais causas da queda de cabelo, no entanto, tem a ver com alterações hormonais que tanto podem ocorrer naturalmente, como o pós-parto e a menopausa, quanto ser sintomas de doenças sistêmicas, como os distúrbios da tireoide. Este artigo irá abordar as causas exclusivamente hormonais.
Qualquer deficiência ou excesso na produção de hormônios pode resultar na queda de cabelo. A falta ou a presença exagerada dessas substâncias são capazes de alterar as condições do organismo, enfraquecer o sistema imunológico, gerar inflamação e assim afetar os folículos pilosos do couro cabeludo, causando a queda de cabelo hormonal.
Problemas em glândulas endócrinas como tireoide, suprarrenal e hipófise desregulam o organismo e por isso acabam atrapalhando a atuação adequada dos nutrientes que deveriam chegar até os bulbos capilares, as estruturas responsáveis pelo nascimento e crescimento dos fios. Alterações nos hormônios sexuais como a testosterona, estrógeno e progesterona também interferem na saúde das madeixas.
Os hormônios com efeito mais direto no desenvolvimento da calvície masculina e feminina são os andrógenos, os hormônios masculinos. Eles são produzidos por homens e mulheres, embora a produção nos homens seja maior, o que resulta no desenvolvimento das gônadas masculinas como pênis e testículos e nas características sexuais secundárias como crescimento da barba, engrossamento da voz e aumento da massa muscular e da estatura. A produção dos andrógenos acontece em grandes quantidades nos testículos nos homens e em pequenas quantidades nos ovários, glândula adrenal e tecido adiposo nas mulheres.
A testosterona e seu derivado diidrotestosterona (DHT) são os andrógenos mais envolvidos na calvície. Há pessoas que possuem fatores genéticos e hereditários para o processo de atrofia dos bulbos capilares, que é desencadeado pela presença de altas doses de testosterona convertidas em DHT, uma molécula que atua nos bulbos e fragiliza os fios. É por isso que a calvície afeta mais os homens do que as mulheres, pois eles naturalmente possuem níveis mais elevados de testosterona.
Os fios passam então por um processo de miniaturização, e vão ficando cada vez mais finos até se tornarem imperceptíveis, uma condição chamada pela medicina de alopecia androgenética. Em geral, a calvície masculina começa na parte da frente da cabeça, formando as famosas “entradas”. Nas mulheres o problema apresenta um aspecto mais difuso, atingindo várias áreas do couro cabeludo. O mais frequente é que a alopecia na mulher não chegue a causar uma calvície completa como no caso dos homens.
Qualquer condição que leve ao aumento dos hormônios andrógenos tanto em homens quanto mulheres pode desencadear ou agravar quadros de alopecia androgenética, tais como como tumores virilizantes, hiperplasia adrenal congênita e síndrome dos ovários policísticos.
A síndrome dos ovários policísticos é um distúrbio endócrino que ocorre em cerca de 5 a 10% das mulheres em idade fértil, embora possa acometer também meninas. Essa doença provoca alteração dos níveis hormonais, levando à formação de cistos nos ovários, o que faz com que eles aumentem de tamanho. Essa síndrome não possui causa conhecida, embora o histórico familiar tenha influência.
Os sintomas incluem menstruação irregular (atraso ou ausência), acne, ganho de peso, aumento da oleosidade da pele, queda de cabelo e hirsutismo (aumento de pelos no rosto, seios e abdômen). Em casos mais graves a doença pode predispor a mulher a desenvolver diabetes, doenças cardiovasculares, infertilidade e câncer do endométrio.
Essa síndrome provoca um aumento da produção de testosterona, que convertida em DHT, provoca a morte dos bulbos capilares e fragiliza os fios. Esse é, inclusive, o mesmo mecanismo provocado por anabolizantes e suplementos para musculação.
A hiperplasia adrenal congênita é uma doença genética que produz distúrbios no funcionamento das glândulas adrenais. Essas glândulas, também chamadas de suprarrenais, se localizam acima dos rins e produzem hormônios importantes para o funcionamento do organismo, como o cortisol e a aldosterona. As pessoas acometidas por essa doença têm deficiência de uma enzima e não consegue produzir os hormônios na quantidade necessária.
Esses hormônios mantêm o nível correto de glicose no sangue, sal e água no organismo, e atuam na resposta ao estresse. Em sua forma clássica, a condição não tratada leva à morte, por isso é importante que seja detectada precocemente no exame de triagem neonatal, conhecido como teste do pezinho, que é realizado em todos os recém-nascidos. Os sintomas em crianças podem incluir genitália ambígua em meninas, e no decorrer da vida ocorrem virilização progressiva, crescimento excessivo, puberdade precoce, e baixa estatura na vida adulta. Além da deficiência de aldosterona e cortisol, a condição produz excesso de hormônios andrógenos, o que leva à calvície.
O estresse é um conjunto de reações orgânicas e psíquicas desenvolvidas pela evolução para preparar o organismo quando este recebe um determinado estímulo considerado ameaçador. O corpo se prepara para fugir ou lutar com o suposto agressor, ficando em estado de alerta e sintetizando altas doses de hormônios, principalmente adrenalina e cortisol. Este último é produzido pela glândula adrenal, e é conhecido como hormônio do estresse. Além do estresse crônico, do estresse físico, e do estresse provocado por situações súbitas de tensão, tumores das glândulas adrenais e da hipófise também aumentam os níveis de cortisol no corpo.
Quando acontece um momento de grande tensão, o corpo reage com uma queda capilar temporária, chamada de eflúvio telógeno, que acontece cerca de três meses depois do momento traumático, que pode ser uma grande perda, um acidente ou a notícia de doença grave. Já a alopecia areata é causada pela reação do sistema imunológico a altos níveis de estresse contínuo, atacando os folículos capilares e inativando-os, o que resulta em pequenos círculos sem cabelos conhecidos como “peladas”. A pele é lisa e brilhante e os pelos ao redor da área falhada saem facilmente se forem puxados.
Outra condição que a exposição a longos períodos de cortisol alto pode provocar é a Síndrome de Cushing, caracterizada por um rápido aumento de peso e acúmulo de gordura na região do abdômen e da face, além do desenvolvimento de estrias vermelhas, pele oleosa com tendência à acne e alopecia.
Uma das causas mais comuns de queda de cabelo feminina são as alterações dos hormônios sexuais femininos, a progesterona e o estrógeno, produzidos principalmente pelos ovários. As fases de grande variação destes hormônios, como a adolescência, a gravidez, o período pós-parto e a menopausa, são propícias a causar a queda dos fios. Os desequilíbrios hormonais podem favorecer a queda temporária dos cabelos, até que ocorra novamente o ajuste dos níveis hormonais.
As pílulas anticoncepcionais suprimem a ovulação, evitando a gravidez, e são de dois tipos: as que têm em sua fórmula progesterona e estrógeno e aquelas que só têm progesterona. As mais usadas incluem os dois hormônios em diversas doses. O uso da pílula pode tanto causar como tratar a queda de cabelo. Isso porque o anticoncepcional oral diminui a produção de hormônios masculinos no ovário, e por isso pode ser usado para o tratamento da alopecia androgenética em mulheres, a popular calvície.
Os indicados para esse fim são as progesteronas de efeito leve. No entanto, existem mulheres que são mais sensíveis às alterações dos hormônios femininos contidos na pílula, e por isso apresentam queda de cabelo, tanto durante o uso quanto depois de terem interrompido a medicação. Para saber qual é o tipo e dosagem mais adequada para seu caso, sempre consulte um ginecologista.
Durante o período gestacional, os níveis de estrogênio e progesterona mantém-se altos, já que a placenta produz esses hormônios, e por isso eles ficam fortes e brilhantes. Embora seja incomum, as alterações drásticas nos níveis de progesterona e estrogênio durante a gravidez podem fazer com que os folículos capilares saiam rapidamente da fase de crescimento (anágena) e entrem na fase de queda (telógena).
Situação mais corriqueira é o cabelo cair depois do parto, na fase de puerpério e amamentação. Isso acontece devido às alterações nas taxas dos hormônios que foram desencadeadas pelo parto, especialmente do estrógeno. O episódio de queda pode se intensificar devido ao estresse e cansaço provocado pelas mudanças que são introduzidas com a chegada de um bebê, ou ainda devido ao estresse cirúrgico naquelas que tiveram que passar por uma cesariana. O fato de a mãe passar por uma relativa desnutrição devido à alta demanda por nutrientes do bebê também ajuda a desencadear o eflúvio telógeno.
Na maioria dos casos, não há porque se preocupar, pois a queda dos fios é normal e temporária – depois de algum tempo os cabelos voltarão a crescer fortes e saudáveis.
A queda de cabelo na menopausa acontece devido à diminuição da produção de estrogênio pelo ovário, provocando queda dos níveis de colágeno, uma proteína que garante elasticidade à pele e cabelo, deixando-o saudável. Além disso, a partir dos cinquenta anos o couro cabeludo fica mais fino, o que prejudica a circulação na região, dificultando a chegada de nutrientes e oxigênio nos fios. Aliado ao envelhecimento natural dos bulbos capilares, isso provoca o efeito de afinamento nos fios e, depois, a queda.
Quando essa glândula não vai bem, nada funciona direito no corpo. No caso do hipotireoidismo, ocorre queda na produção da tiroxina (hormônios T3 e T4), o que favorece a alopecia porque dificulta o desenvolvimento dos fios, já que ocorre uma lentificação nos processos vitais. Outros sintomas incluem apatia, depressão, ganho de peso, fadiga, pele seca e unhas fracas, constipação, sensação de frio, ganho de peso e irregularidade menstrual.
A situação oposta, de superprodução desses hormônios, causa o hipertireoidismo, o que acelera o metabolismo, acelerando também a reposição das células do couro cabeludo e deixando a pele exposta. Os sintomas são perda de peso inesperada, batimentos cardíacos rápidos ou irregulares, sudorese, irritabilidade, intolerância ao calor, fome excessiva, menstruação curta, hiperatividade e protusão ocular.
Ambas as situações de disfunção da tireoide produzem fios finos, fracos, opacos, e com tendência maior a queda e quebra.
A melhor forma de evitar este problema é realizando check-ups regulares com seu médico, pois ele possui condições para fazer uma avaliação clínica, pedir e interpretar exames e identificar as causas, apontando o melhor tratamento para cada caso de queda de cabelo.
Se você notar que a queda de cabelo é constante e não passa, ou que uma grande quantidade de cabelo é perdida por dia, é importante consultar um clínico geral ou um dermatologista. A associação entre hormônios e queda de cabelo deve sempre ser investigada. Isso porque muitos distúrbios hormonais têm como primeiros sintomas a queda dos fios. Se houver suspeita de distúrbio hormonais deve-se fazer exames de sangue com dosagens hormonais, e se for detectada uma alteração, o médico endocrinologista deve ser consultado.
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