Se você notar que a linha do cabelo está regredindo (dando aparência de testa larga), seu couro cabeludo coça ou dói, sua sobrancelha vem diminuindo e pelos de outras partes do corpo estão desparecendo, cuidado: você pode ter desenvolvido uma doença inflamatória chamada de alopecia frontal fibrosante.
Doença bastante recente, só foi descoberta em 1994 na Austrália pelo dermatologista Steven Kossar, que descreveu o primeiro caso. Considerada rara nos anos 90, o número de diagnósticos cresce cada vez mais, atingindo principalmente mulheres brancas após a menopausa. No entanto, esse tipo de alopecia vem afetando cada vez mais homens e mulheres jovens.
Apesar de não ter cura, possui tratamento, que serve para estacionar o quadro e prevenir complicações. A importância do diagnóstico precoce se deve ao fato de que a doença destrói os folículos pilosos, o que faz com que os cabelos perdidos não cresçam mais. Quanto antes se iniciar o tratamento, menores as chances de ter perda definitiva dos fios.
O termo alopecia se refere a condição clínica de queda ou perda de cabelo, e existem vários tipos de alopecia. A alopecia frontal fibrosante é uma forma de alopecia cicatricial progressiva nas quais ocorre uma inflamação local nos folículos capilares, as estruturas responsáveis pela formação e crescimento dos fios de cabelo. Com o tempo, essa inflamação forma uma fibrose nessas raízes, ou seja, uma cicatriz, o que destrói os folículos pilosos. É por isso que os fios perdidos para a doença não podem mais ser recuperados.
Na alopecia frontal, a principal parte afetada pela inflação são os folículos da região frontal da cabeça, daí o nome. Os fios das regiões temporais também podem ser atingidos, fazendo com que os cabelos caiam dos lados, além da franja. A linha de implantação dos fios sofre um recesso para dentro da cabeça, deixando calvas as áreas da testa e em volta das orelhas.
Outro sintoma comum que costuma acompanhar a queda de cabelo é a perda dos fios da sobrancelha, que geralmente aparece antes da queda dos fios do couro cabeludo, muitas vezes vários anos antes.
Muitas mulheres confundem os sintomas da alopecia frontal fibrosante com questões relacionadas à idade, menopausa ou até com ter depilado em excesso os pelos da sobrancelha. Isto faz com que elas demorem para buscar ajuda especializada e facilita a progressão da doença. Nos casos em que a perda dos fios e pelos é acompanhada de dor, aumento de sensibilidade local e coceira, a procura por tratamento tende a ser mais rápida.
As causas da alopecia frontal fibrosante não estão totalmente estabelecidas, mas sabe-se que ela atinge principalmente as mulheres e que não tem associação com os outros tipos de alopecia. Fatores imunológicos, hormonais, genéticos e ambientais podem estar envolvidos.
O fator imunológico se faz presente porque são as próprias células de defesa do organismo que atacam os folículos pilosos, causando uma inflamação e destruindo-os. O fato de os principais casos do desenvolvimento dessa doença ocorrerem em mulheres acima dos 50 anos após a menopausa corroboram a hipótese hormonal.
Em relação à genética, foram observados vários casos em que pessoas da mesma família desenvolvem essa alopecia, o que pode indicar uma contribuição relacionada aos genes. O aumento expressivo da incidência de casos nos últimos 10 anos sugere que possa haver um fator ambiental ligado à doença. Uma das hipóteses, ainda não comprovada, é que o uso de cosméticos e protetores solares poderia levar ao desenvolvimento da alopecia frontal.
A pele da região acometida por essa alopecia fica pálida, lisa e brilhante. Essas mudanças contrastam visivelmente com a pele normal adjacente à área afetada. Em alguns pacientes as veias da testa passam a aparecer devido ao afinamento da pele causado pela doença.
É um dos sintomas mais comuns da doença, podendo ser o primeiro. Os fios das sobrancelhas desaparecem, geralmente vários anos antes do início da queda de cabelo.
Esse tipo de alopecia faz com que os cabelos caiam nas regiões frontal (na testa) e temporal (dos lados) da cabeça. Essa faixa pode variar de paciente para paciente, dependendo da gravidade. Ocorre então um recesso da linha de implantação dos fios nessas áreas, e elas se tornam calvas. Podem sobrar alguns fios grossos solitários nas regiões afetadas.
As pessoas que têm a alopecia fibrosante frontal também podem apresentar dor, ardor e coceira nas áreas em que ocorrem a queda de cabelo, o que muitas vezes acaba facilitando o diagnóstico, já que o desconforto as leva a procurar ajuda mais cedo.
Menos comum é o aparecimento de manchas amarronzadas que se parecem com melasma, mas não melhoram com o uso de clareadores. Também podem aparecer pápulas (bolinhas) da cor da pele no rosto, dando a impressão de pele áspera.
Para diagnosticar a alopecia fibrosante frontal, o dermatologista faz um exame clínico analisando o couro cabeludo, as sobrancelhas, e o corpo do paciente (se houver perda de pelos nos braços e nas pernas, por exemplo). Ele pode fazer uma dermatoscopia nas áreas afetadas e pedir um exame de histologia (anatomopatológico), que é feito por meio de biópsia (em que um pequeno pedaço de pele é retirado da área suspeita e enviado ao laboratório).
Infelizmente, ainda não há cura para essa doença, já que os mecanismos de ação que levam o próprio sistema imunológico atacar os folículos pilosos não estão totalmente esclarecidos. O objetivo do tratamento é aliviar os sintomas do paciente e não deixar que a doença evolua, preservando os fios que não foram atingidos.
É possível controlar a progressão da alopecia frontal fibrosante com medicações orais que diminuem a atividade inflamatória (como a doxiciclina e a hidroxicloroquina) ou que auxiliem nos distúrbios hormonais (como a finasterida e a dustaterida, medicações antiandrogênicas). Também é possível utilizar medicações anti-inflamatórias tópicas, ou seja, em forma de cremes para passar na pele, ou injetáveis (como corticóides, calcipotriol, tacrolimus e pimecrolimus).
Um método não-medicamentoso que possui resultados positivos para a redução dos sintomas como dor, ardor e coceira causados pela alopecia frontal é a fotobiomodulação ou fototerapia capilar, que utiliza de laser de baixa fluência e de LED para tratar a queda capilar, para melhorar a qualidade, força e espessura dos fios. Esse efeito de espessamento interessante porque ajuda a disfarçar as áreas de perda. Por possuir ação anti-inflamatória com redução de edema, ocasiona um aumento da vascularização, o que promove a distribuição de nutrientes e oxigênio e acelera o processo de divisão celular e o crescimento epitelial. A fotobiomodulação pode ser utilizada como adjuvante do tratamento medicamentoso.
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